“Batismo no Espírito Santo” = Fruto do Espírito?

Se há alguém que mais foi afrontado por esse termo, sem dúvida, fui eu!
Tenho uma certa dificuldade em aceitar alguns pensamentos e algumas afirmações “extra-bíblicas” (sendo boazinha ao ponto de considerar algo que seja digno de ser dito como “extra” da Palavra). E vivendo nesse tempo de supostos avivamentos, onde a cada dia novas modas são lançadas em nossos púlpitos que viraram vitrines de milagres e bênçãos em constantes promoções, este assunto me chamou uma atenção especial para dissertar.
Sem preconceitos, apenas usando de um olhar sincero, vemos que o termo ao qual estamos discutindo é geralmente mais comum entre os queridos irmãos em Cristo adeptos do “reteté”. Por conseguinte, também vemos que é desse meio de onde costuma-se sair mais, digamos, “pérolas cristãs”.
Assistindo a uma pregação do admirável John MacArthur, onde segundo a graça de Deus ele define com absoluta sabedoria o que é ser cheio do Espírito, fiquei a pensar acerca dos tais avivamentos, novas unções, ditas acima por mim. E refletindo sobre isso dia após dia, me reportei a uns cultos que freqüentei ano passado e que será usado como exemplo aqui neste texto, por ter sido algo não somente visto de longe e superficialmente ou contado, mas vivido por mim.
Nestes tais cultos, era sempre a mesma liturgia: chegávamos, louvávamos, pregavam e após a pregação era aberto um espaço para revelações do Espírito sobre pessoas que ali se encontravam. Lendo assim, não há motivo pelo qual tanto se escandalizar, porém, não era tão simples. Sem atentar para a pregação sempre muito triunfalista, como os é de costume, raros foram os 10 minutos em que pude ouvir com clareza a Palavra e não era interrompida por rodopios, saltos, giros, gritos e falação de línguas estranhas sem parar. Confesso que às vezes me dava vontade de rir, tamanhas estranhices vistas por mim naquele lugar! Pessoas não convertidas que ali estavam, de certo tiveram um prato cheio de escândalos para contar.
Lendo o livro de 1 Coríntios, capítulo 14, lemos o que Paulo diz a respeito de dons Espirituais:

“Assim também vós, se com a língua não pronunciardes palavras bem inteligíveis, como se entenderá o que se diz? porque estareis como que falando ao ar.
Há, por exemplo, tanta espécie de vozes no mundo, e nenhuma delas é sem significação.
Mas, se eu ignorar o sentido da voz, serei bárbaro para aquele a quem falo, e o que fala será bárbaro para mim.
Assim também vós, como desejais dons espirituais, procurai abundar neles, para edificação da igreja.
Por isso, o que fala em língua desconhecida, ore para que a possa interpretar.
Porque, se eu orar em língua desconhecida, o meu espírito ora bem, mas o meu entendimento fica sem fruto.
Que farei, pois? Orarei com o espírito, mas também orarei com o entendimento; cantarei com o espírito, mas também cantarei com o entendimento.
De outra maneira, se tu bendisseres com o espírito, como dirá o que ocupa o lugar de indouto, o Amém, sobre a tua ação de graças, visto que não sabe o que dizes?
Porque realmente tu dás bem as graças, mas o outro não é edificado.
Dou graças ao meu Deus, porque falo mais línguas do que vós todos.
Todavia eu antes quero falar na igreja cinco palavras na minha própria inteligência, para que possa também instruir os outros, do que dez mil palavras em língua desconhecida.
Irmãos, não sejais meninos no entendimento, mas sede meninos na malícia, e adultos no entendimento.
[...]
Se, pois, toda a igreja se reunir no mesmo lugar, e todos se puserem a falar em outras línguas, no caso de entrarem indoutos ou incrédulos, não dirão, porventura, que estais loucos?
[...]
Se alguém se considera profeta ou espiritual, reconheça que as coisas que vos escrevo são mandamentos do Senhor;
mas se alguém quiser ignorá-lo, que o ignore!
Assim, pois, irmãos, aspirai ao dom de profetizar; porém, não impeçais falar em línguas.
Mas faça-se tudo com ordem e decência.”


Após esta leitura, cheguei a três conclusões:


1ª - O que fala em línguas a Igreja, deve necessariamente ser precedido de interpretação, é mandamento do Senhor;
2ª - Ser espiritual não significa abrir mão do bom senso;
3ª - Falar em línguas é dom específico, não um batismo estendido a todos os cristãos.

Ora, como pode todos aqueles acontecimentos tidos como dirigidos pelo Espírito serem, de fato, dirigidos pelo Espírito, se O próprio não contradiz aquilo que escreveu? Pois bem sabemos que toda a escritura é devidamente inspirada e movida pelo Espírito Santo (2 Pedro 1:21). Entendam que não descarto tais dons, passa bem longe disso a intenção deste texto. A grande questão é: como pode haver, de fato, espaço para a ação do Espírito Santo, quando pessoas negligenciam Sua Palavra que diz que para as línguas, deve haver quem interprete e para a direção do culto, ordem e decência? Sendo o Espírito autor das Escrituras, entende-se que ambos são intimamente ligados e tudo aquilo que não é bíblico, logo, não é procedido do Espírito de Deus. O motivo bíblico que nos faz parecer loucos para o mundo é a Palavra da Cruz (1 Coríntios 1:18) por nós pregada, não nossas reuniões como corpo de Cristo (1 Coríntios 14:23). Se a Cruz é o tema central, a loucura vista em nós é aceitável. Porém, se a loucura vista em nós é fruto de manifestações estranhas, temos sérios motivos para requerermos mudanças em nosso comportamento como Igreja.
Agora, atentando ao termo “batismo NO Espírito”, temo pelos comentários, porém afirmo que NÃO É BÍBLICO. O termo relatado nas Escrituras é “batismo COM o Espírito”. Pentecostais afirmam que ser batizado NO Espírito significa ser imerso no mesmo, e é também um acontecimento subsequente da conversão e todo aquele que não manifesta as evidências deste batismo, ainda não é participante do mesmo. Porém, vejamos o que mais uma vez Paulo nos diz:

“Pois todos nós fomos batizados em um só Espírito, formando um só corpo, quer judeus, quer gregos, quer servos, quer livres; e a todos nós foi dado beber de um só Espírito.” (1 Coríntios 12:13).

Fica evidente que Paulo estende a participação no Espírito a todo crente devidamente regenerado, que quer dizer o mesmo que devidamente batizado COM o Espírito,tornando-se participante do corpo de Cristo.

“E Ele vos batizará COM o Espírito Santo e com fogo” (Mateus 3:11)

Este versículo, para alguns dá o falso entendimento do termo “fogo” como sinônimo de autoridade e poder, porém, o fogo descrito é a ira vindoura de Deus sobre todo aquele que em Cristo não creu. Prova disto é o contexto:

“Já está posto o machado à raiz das árvores; toda árvore, pois, que não produz bom fruto é cortada e lançada ao fogo.
Eu vos batizo com água, para arrependimento; mas aquele que vem depois de mim é mais poderoso do que eu, cujas sandálias não sou digno de levar. Ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo.
A sua pá, ele a tem na mão e limpará completamente a sua eira; recolherá o seu trigo no celeiro, mas queimará a palha em fogo inextinguível.”

Com base nisto, entende-se que há dois tipos de batismo: o com o Espírito, que é feito a todos aqueles que a Jesus se convertem, e com fogo, que será feito a todo aquele que nEle não creu. Por conseguinte, chegamos a conclusão que falar em línguas (refiro-me a este dom em específico, apenas por ser o mais usado como argumento pelos adeptos do batismo NO), é um dom estritamente pessoal, e com isso quero dizer que ele não é a evidência principal de salvação e que, consequentemente, não é estendido a todo o corpo de Cristo.
Agora, acredito que alguém se pergunte: mas então, qual o fruto do Espírito? O que me faz ter absoluta certeza de que O possuo? Vejamos:

“(Pois o fruto do Espírito consiste em toda a bondade, e justiça e verdade),” (Efésios 5:9)

Ser cheio do Espírito, querido leitor, é ser preenchido de bondade, de justiça, de verdade. E bondade, justiça e verdade encontradas unicamente na Palavra! Você será um homem ou uma mulher cheio do Espírito Santo de Deus, quando todos os teus atos, emoções e sentimentos forem regidos pelas Escrituras a nós deixadas.
“Produzi frutos dignos de arrependimento”, diz a Palavra de Deus (Mateus 3:8)! Sejamos crentes cheios de Espírito, cheios da Verdade, frutíferos, com nossas vidas direcionadas a Cruz do nosso Senhor Jesus e tudo que por nós for feito, que seja para Sua honra e para a Sua glória! É assim, somente assim, que outros verão e terão a absoluta certeza da atuação do Espírito em nosso viver.