terça-feira, 22 de junho de 2010
Teologia da Humildade
Durante muito tempo me perguntei como as pessoas que lêem a Bíblia conseguem atribuir a famosa “Teologia da Prosperidade” a Cristo. Há algum tempo, li uma entrevista do Sr. Robson Rodovalho (entendam: não estou atacando a “pessoa” ou julgando, como alguns gostam de falar por aí, apenas não concordo com sua doutrina e condeno a sua idéia em relação a visão do Evangelho) na qual ele cita algumas frases que são totalmente contrárias à mensagem de Cristo e que excluem o que há de mais lindo em sua pregação: o amor e a humildade.
“Ficar aqui ganhando salário mínimo, satisfeito, com a Bíblia na mão, é o plano de Deus para nós? Para mim, pregar que o crente deve ser feliz mesmo ganhando salário mínimo é uma heresia, além de uma agressão ao ser humano.”
“Quem disse isso? Eu não concordo, não vejo isso na Bíblia. Jesus tinha uma roupa tão bonita, tão cara, que os soldados disputaram para ver quem ficaria com ela. Outra coisa, Jesus era acompanhado por mulheres ricas que o serviam”
Como podem existir interpretações em relação às Escrituras e sobre o princípio de Jesus como essas se, em todo momento, ele sempre pregou o desapego material, o desprendimento das coisas deste mundo, o foco nas coisas incorruptíveis, celestiais, e não nas coisas que se corroem e com o tempo se acabam?
"Disse-lhe Jesus: Se queres ser perfeito, vai, vende os teus bens, dá aos pobres e terás um tesouro no céu; depois, vem e segue-me. Tendo, porém, o jovem ouvido esta palavra, retirou-se triste, por ser dono de muitas propriedades. Então, disse Jesus a seus discípulos: Em verdade vos digo que um rico dificilmente entrará no reino dos céus. E ainda vos digo que é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus. Ouvindo isto, os discípulos ficaram grandemente maravilhados e disseram: Sendo assim, quem pode ser salvo? Jesus, fitando neles o olhar, disse-lhes: Isto é impossível aos homens, mas para Deus tudo é possível. Então, lhe falou Pedro: Eis que nós tudo deixamos e te seguimos; que será, pois, de nós? Jesus lhes respondeu: Em verdade vos digo que vós, os que me seguistes, quando, na regeneração, o Filho do Homem se assentar no trono da sua glória, também vos assentareis em doze tronos para julgar as doze tribos de Israel. E todo aquele que tiver deixado casas, ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe {ou mulher}, ou filhos, ou campos, por causa do meu nome, receberá muitas vezes mais e herdará a vida eterna." (Mateus 19. 21-29)
Vemos nessa passagem que, em nenhum momento, Jesus está preocupado com a vida financeira do jovem ou discípulos, pelo contrário, ele se volta totalmente para a riqueza para ensinar que o tesouro que realmente importa é aquele reservado no céu, o qual não se acaba.
A atitude de Jesus se mostra muito diferente do que os “teólogos da prosperidade” pregam, a saber, uma vida mais voltada pra si próprio do que para Deus, onde importa muito mais “a minha vitória, a minha alegria, o meu sucesso” do que ajudar outras pessoas necessitadas. Além disso, há ainda o fato de que é impossível servirmos dois senhores: ou servimos a Deus ou ao dinheiro (Mt 6:24).
Onde está o erro de se buscar ser bem sucedido financeiramente? Na verdade não existe problema nenhum em uma pessoa ser rica, o problema está na essência humana, a índole carnal, a inclinação para as coisas que Deus abomina, a obsessão pelo poder, pela fama, pelo sucesso. Na maioria das vezes, isso acaba indo de encontro ao princípio da dependência de Deus “...porque sem mim nada podeis fazer” e, com isso, em vez de nos aproximarmos e chegarmos cada vez mais à intimidade com o Senhor, acabamos nos afastando cada vez mais do que Deus quer de nós.
Hipocrisia é uma pessoa dizer que ama a Deus quando trabalha, trabalha e trabalha para ostentar mansões, carrões e diversos de outros bens (Tiago 5. 5-6) mas é incapaz de ajudar ao próximo, de ajudar um órfão com fome, de levar consolo a uma viúva e assim, realmente amar o teu irmão. É isso que essa “teologia” mundana, egocêntrica, egoísta, e antropológica nos oferece.
Porém, existem ainda aqueles que não defendem a teologia da prosperidade, mas sim o “equilíbrio deve haver entre a vida cristã, pessoal, profissional, dentre outras áreas”. No entanto, as Escrituras e o fato histórico não nos oferecem nenhum respaldo pra tal pensamento. Um exemplo fantástico disso é o apóstolo Paulo.
Paulo era formado na tradição judaica dos fariseus. Figurava entre os chamados “doutores da lei”, cujo conhecimento equivalia a uma espécie de faculdade. Foi uma pessoa privilegiada nos estudos, pois sua família pode conceder-lhe isso. Sabemos que era também fabricante de tendas, cujo ofício muito provavelmente aprendeu com o pai, mas, ao que parece, não para exercê-lo, mas para cuidar dos negócios da família. Além disso, o pai de Paulo deveria ser bastante abastardo financeiramente. Paulo faz questão, em certo momento de sua vida, de dizer que era “cidadão romano”, e para um judeu se tornar cidadão romano era preciso, muito, muito, muito dinheiro. Isso talvez queira dizer que o pai ou o avô de Paulo talvez tenham conseguido apropriar-se da cidadania romana a ponto de poder passá-la aos seus filhos e netos. Isso requeria “grande soma de dinheiro” (At 22. 29).
Paulo vivia, então, como cidadão romano e, portanto, era membro oficial da cidade e podia participar das Assembléias do Povo, onde se discutia tudo sobre a vida e organização das cidades. Embora fossem nomeadas como “Assembléias do povo”, somente fazia parte delas uma pequena elite de cidadãos, e não o povo em geral.
Eu me pergunto como pode um homem tão rico, importante, famoso largar tudo isso, toda regalia, todo equilíbrio com a vida social, pra se considerar “prisioneiro de Cristo Jesus, por amor aos gentios”? Paulo deixou tudo para trás, abandonou as coisas que a maioria das pessoas acham extremamente importantes na vida, deixou de lado status, dinheiro e poder por causa de Jesus e ainda tem gente que quer falar de equilíbrio e de prosperidade!
“Mas o que, para mim, era lucro, isto considerei perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor, por amor do qual perdi todas as coisas e as considero como refugo, para ganhar a Cristo”(Filipenses 3:7-8)
Muitos deverão perguntar agora: então você prega a pobreza?
Não. Eu prego humildade, amor e simplicidade como Paulo fala: “Não façam nada por interesse pessoal ou por desejos tolos de receber elogios, mas sejam humildes e considerem os outros superiores a vocês mesmos. Que ninguém procure somente os seus próprios interesses, mas também os dos outros. Tenham em vocês o mesmo modo de pensar que Cristo Jesus tinha.” (Filipenses 2. 3-5)
Quando escrevo sobre o que chamo de “teologia da humildade”, quero defender justamente isso: o amor. Ajudar a quem precisa, levar a Cristo, tudo feita de forma bem simples e humilde. Como Paulo que não pensava somente nele e sim nos que precisavam de sua ajuda “Porem por causa de vocês, é muito mais necessário que eu continue a viver. E, como estou certo disso, sei que continuarei vivendo e ficarei com todos voces para ajuda-los a progredirem e a terem a alegria que vem da fé.”(Filipenses 2. 24-25), generosidade e ter a humildade e o entendimento de que não somos nada sem Jesus, e se estamos com Jesus devemos ter o mesmo sentimento que ele teve. “Nisto conhecemos o amor: que Cristo deu a vida por nós; e devemos dar a nossa vida pelos irmãos” (1 João 3. 16)
Quando escrevo sobre o que chamo de “teologia da humildade”, quero defender justamente isso: o amor, ajudar a quem precisa, conduzir as pessoas a Cristo, tudo feito de forma bem simples e humilde. Generosidade é ter a humildade e o entendimento de que não somos nada sem Jesus, e se estamos com ele devemos ter os mesmos sentimentos que ele. “Nisto conhecemos o amor: que Cristo deu a vida por nós; e devemos dar a nossa vida pelos irmãos” (1 João 3. 16)
“A religião pura e sem mácula, para com o nosso Deus e Pai, é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações e a si mesmo guardar-se incontaminado do mundo” (Tiago 1.27)
E, ao contrário do pensamento do Rodovalho, creio eu que quem tem o coração reto, puro e limpo no Senhor, não está preocupado se está ganhando um salário mínimo ou cem mil reais, mais sim no que pode ajudar a quem precisa. E não precisamos ter esse dinheirão todo para ser feliz não: “Restitui-me a alegria da tua salvação e sustenta-me com um espírito voluntário” (Salmos 51. 12)
Como diz Paul Washer “Será que a salvação não é suficiente?”. Tenho certeza que para os genuínos cristãos, sim.
“O meu mandamento é este: que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei.”
A paz de Cristo !
MARTINS, Raphael
11 comentários:
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Excelente texto Raphael.
ResponderExcluirFiquei extremamente escandalizado com essa do salário mínimo. Isso é a personificação de Mamom.
No mais...
A paz se possível, a verdade a qualquer preço!
Soli deo gloria.
TREMENDO!
ResponderExcluirQue você continue sendo cada vez mais preenchido com a Verdade, irmão. Vejo Cristo em você e em cada palavra deste texto.
' No mais...
A paz se possível, a verdade a qualquer preço! ' [2]
Sola Scriptura
Deus acima de tudo!!!
ResponderExcluirSua visão é extremamente correta mano,Como diz a musica de fernandinho,Deus estar levantando um Novo "Povo" e separando seus "Profetas"...vc é um "Profeta do Senhor"
obs: Tamos juntos mano,vc sabe minha visão tbm...
Jesus te ama mano e deixa ele te usar!!!
Excelente irmão!
ResponderExcluirÉ uma pena que tão grande ênfase é dada às pregações heréticas de Rodovalho e tantos outros do mesmo nível.
Apelar para o valor e a qualidade das roupas de Jesus e desprezar o que Jesus pregou é realmente o fim da picada.
E pra variar, sempre vêm falar que julgamos.
Meu Deus, será que não compreendem que julgamos idéias e posicionamentos, como vc mesmo expôs no texto?
Os indivíduos, estes sim Deus julgará, e dará a paga a cada um segundo o seu procedimento.
Esquecem de que os que ensinam terão julgamento mais rigoroso (Tg 3:1).
Nos mais, continuemos caminhando na batalha.
Jesus te abençoe e continue iluminando, irmão!
Graça e Paz a todos!
Parabéns meu caro, pessoas deveriam ler contruções como essas, as tuas! Indico outro texto, do Paulo Brabo:
ResponderExcluir"As contradições da prosperidade"
http://www.baciadasalmas.com/2010/as-contradicoes-da-prosperidade/
Eu amo a Sara Nossa Terra...
ResponderExcluirEu também amo a SNT!! =)
ResponderExcluirO que está sendo abordado aqui não é igreja,não queremos falar mal de igreja, estamos falando de coisas que hoje em dia tem sido pregadas em várias igrejas, e a palavra de Deus nos dá crédito, e nos afirma pra fazer isso.. II Tm 4 =)
Yago Vargas !
As pessoas sempre confundem. Creio que aqui todos amam a Sara Nossa Terra (me refiro às pessoas), ou pelo menos todos deveríamos, mas discordamos da maior parte das coisas que são pregadas na SNT, pois não condizem com a verdade do Evangelho.
ResponderExcluirEntre a Sara e a Bíblia, prefiro ficar com a Bíblia.
Graça e Paz!
Sr anonimo...
ResponderExcluirMe diga no texto aonde foi que eu me refiri a SNT?
A Paz de Cristo !
Há tempos Cristo deixou de ser o centro da pregação nas Igrejas Neopentecas...
ResponderExcluirHá quanto tempo, senhor Grando??? =)
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