segunda-feira, 30 de abril de 2012

É sempre uma falta de amor criticar e julgar?




Por Augustus Nicodemus Lopes 

Tornou-se comum evangélicos acusarem de falta de amor outros evangélicos que tomam posicionamentos firmes em questões éticas, doutrinárias e práticas. A discussão, o confronto e a exposição das posições de outros são consideradas como falta de amor.

Essa acusação reflete o sentimento pluralista e relativista que permeia a mentalidade evangélica de hoje e que considera todo confronto teológico como ofensivo.

Pergunto-me se a Reforma Protestante teria acontecido se Lutero e os demais companheiros pensassem dessa forma.

Não posso aceitar que seja falta de amor confrontar irmãos que entendemos não estarem andando na verdade, assim como Paulo confrontou Pedro, quando este deixou de andar de acordo com a verdade do Evangelho (Gálatas 2:11). Muitos vão dizer que essa atitude é arrogante e que ninguém é dono da verdade. Outros, contudo, entenderão que faz parte do chamamento bíblico examinar todas as coisas, reter o que é bom e rejeitar o que for falso, errado e injusto.

Considerar como falta de amor o discordar dos erros de alguém é desconhecer a natureza do amor bíblico. Amor e verdade andam juntos. Oséias reclamou que não havia nem amor nem verdade nos habitantes da terra em sua época (Os 4.1). Paulo pediu que os efésios seguissem a verdade em amor (Ef 4.15) e aos tessalonicenses denunciou os que não recebiam o amor da verdade para serem salvos (2Ts 2.10). Pedro afirma que a obediência à verdade purifica a alma e leva ao amor não fingido (1Pe 1.22). João deseja que a verdade e o amor do Pai estejam com seus leitores (2Jo 3). Querer que a verdade predomine e lutar por isso não pode ser confundido com falta de amor para com os que ensinam o erro.

Apelar para o amor sempre encontra eco no coração dos evangélicos, mas falar de amor não é garantia de espiritualidade e de verdade. Tem quem se gabe de amar e que não leva uma vida reta diante de Deus. O profeta Ezequiel enfrentou um grupo desses. “... com a boca, professam muito amor, mas o coração só ambiciona lucro” (Ezequiel 33.31). O que ocorre é que às vezes a ênfase ao amor é simplesmente uma capa para acobertar uma conduta imoral ou irregular diante de Deus. Paulo criticou isso nos crentes de Corinto, que se gabavam de ser uma igreja espiritual, amorosa, ao mesmo tempo em que toleravam imoralidades em seu meio (tratava-se de um jovem “incluído” que dormia com sua madrasta - 1Co 5.1). O discurso das igrejas que hoje toleram todo tipo de conduta irregular em seus membros é exatamente esse, de que são igrejas amorosas, que não condenam nem excluem ninguém.

Ninguém na Bíblia falou mais de amor do que o apóstolo João, conhecido por esse motivo como o “apóstolo do amor”. Ele disse que amava os crentes “na verdade” (2João 1; 3João 1), isto é, porque eles andavam na verdade. "Verdade" nas cartas de João tem um componente teológico e doutrinário. É o Evangelho em sua plenitude.  Todavia, eis o que o apóstolo do amor proferiu contra mestres e líderes evangélicos que haviam se desviado do caminho da verdade:

- “todo espírito que não confessa a Jesus não procede de Deus; pelo contrário, este é o espírito do anticristo, a respeito do qual tendes ouvido que vem e, presentemente, já está no mundo” (1Jo 4.3).

- “... muitos enganadores têm saído pelo mundo fora... Todo aquele que ultrapassa a doutrina de Cristo e nela não permanece não tem Deus... Se alguém vem ter convosco e não traz esta doutrina, não o recebais em casa, nem lhe deis as boas-vindas. Porquanto aquele que lhe dá boas-vindas faz-se cúmplice das suas obras más” (2Jo 7-11).


Poderíamos acusar João de falta de amor pela firmeza com que ele resiste ao erro teológico?

O amor bíblico disciplina, corrige, repreende, diz a verdade. E quando se vê diante do erro seguido de arrependimento e da contrição, perdoa, esquece, tolera, suporta. O Senhor Jesus, ao perdoar a mulher adúltera, acrescentou “vai e não peques mais”.

Portanto, o amor cobrado pelos que se ofendem com a defesa da fé, a exposição do erro e o confronto da inverdade não é o amor bíblico. Falta de amor para com as pessoas seria deixar que elas continuassem a ser enganadas sem ao menos tentar mostrar o outro lado da questão.

5 comentários:

  1. É sempre uma falta de amor criticar e julgar? Eis que não sou digna de expor minha opinião, por isso à luz da Bíblia o respondo.
    Jesus se refere ao julgamento hipócrita. Muitas vezes os 'Cristãos' se acham dignos de julgar o seu irmão. Temos que ter muito cuidado no julgar, pois aquele que julga estará julgando a si mesmo.
    Repreender e exortar não é julgar. Mas até para repreender e exortar é necessário o amor. O cristão precisa discernir o momento de repreender, exortar e julgar. O julgar tem um propósito, como tudo que vem de Deus tem propósito. Como disse Paulo para uma das igrejas de Cristo - Ousa algum de vós, tendo algum negócio contra outro, ir a juízo perante os injustos, e não perante os santos?
    1 Coríntios 6:1 - É necessário um líder extremamente espiritual, maduro e com tempo de caminhada para saber discernir tais coisas, sejamos humildes para lhe dar com isso. Não podemos dar carne para uma criança e nem leite para um adulto, como diz o apóstolo Paulo. Para julgar é necessário ser verdadeiramente um Cristão, não digo cristão no conceito vulgar, digo cristão verdadeiramente, agir como Cristo agiu, falar como Cristo falou, andar como Cristo andou, amar como Cristo amou. O julgar tem um propósito. É necessário o funcionamento harmonioso do corpo de Cristo e por isso ás vezes será necessário julgar, mas o propósito do julgar em Cristo não é o mesmo que simplesmente julgar, como já foi dito, julgar é diferente de exortar e repreender. Cada um tem um propósito, mas todos feitos com amor (amor, amor mesmo, amor de Cristo). Quanto a criticar não vejo amparo Bíblico para ter tal atitude.
    Desejo o amor de Cristo a todos nós, por intermédio de Cristo Jesus. Amém.

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  2. Bem vinda irmã, obrigado por sua manifestação aqui. Bem, antes de qualquer coisa preciso fazer algumas considerações a respeito do que você escreveu. Primeiro, vc se disse indigna de expor sua opinião, o que veementemente discordamos, pois o espaço está aberto a receber a opinião de todos os que estejam focados em expor a verdade de Cristo, ainda que venha a divergir da opinião aqui expressada. Portanto sinta-se sempre à vontade para expor suas opiniões e convicções. Segundo, não creio que a Bíblia tenha respondido, mas que vc externou sua opinião baseada em alguns trechos da Bíblia, e infelizmente deixando outros de lado. No próprio trecho que vc usa de 1Co 6 (que sinceramente não entendi seu objetivo ao usá-lo) vc pode observar a orientação de Paulo aos coríntios de que se julguem as causas dentro da igreja, em vez de levar a um juiz incrédulo. É importante frisar que, ao contrário do seu entendimento, Paulo não afirma que SOMENTE o sábio ou espiritual deve julgar a causa, mas ele apela a consciência de cada um daquela igreja como se estivesse dizendo: "Será que ninguém pode se levantar com sabedoria para julgar a causa?". Quando vc diz que "é necessário um líder extremamente espiritual, maduro e com tempo de caminhada para saber discernir tais coisas", vc não está sendo fiel ao texto, pois Paulo realmente não disse isso. E, além disso, se eu fosse realmente seguir sua linha de raciocínio diria que vc então não poderia discordar do texto acima, pois quem o escreveu é extremamente respeitado e conceituado no meio da igreja justamente por causa de seu zelo com a Verdade do Evangelho em amor, Dr. Augustus Nicodemus Lopes.

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  3. Além disso, quando vc diz "extremamente espiritual" me soa como se houvessem níveis de espiritualidades, e sinceramente não compreendo como isso funciona, pois creio que seja espiritual todo aquele que é nascido da água e do Espírito, ou seja, o que foi regenerado por Deus para a Glória de Cristo. Portanto devo discordar de vc neste ponto tbm.

    Além do mais, vc coloca alguns critérios necessários para poder definir quem pode julgar, o que, sinceramente, creio que exclua a todos, pois ninguém pode "agir como Cristo agiu, falar como Cristo falou, andar como Cristo andou, amar como Cristo amou". Devemos nos esmerar por fazer tais coisas, mas infelizmente não conseguiremos. E ainda o fato de que não vemos em nenhum lugar da Bíblia ser citado tais critérios para que se possa julgar algo, mas apenas que assim deve ser a nossa maneira de andar no dia a dia, expondo Cristo não somente por meio de palavras, mas também de um procedimento digno da fé que fomos chamados a professar.

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  4. Quando vc diz que "Repreender e exortar não é julgar", nisso evidentemente concordamos. Explica-se: "Vejo um irmão ensinando a alguns. Paro, ouço, julgo sua mensagem com base nas Escrituras. Se não for nada absurdo ou que fira os alicerces da fé cristã, mas que fere uma doutrina bíblica então o procuro para arrazoarmos sobre o que foi ensinado, e o exorto a ensinar da forma que está exposto de forma mais clara nas Escrituras. Se a mensagem fere os alicerces, o repreendo, e caso se arrependa receberá conforto, consolo e apoio dos irmãos. Se percebo que tal ensinamento fere os alicerces da fé e foi exposto com malícia, com o objetivo claro de ludibriar, repreendo-o duramente, e caso não se arrependa sou conduzido a algumas possíveis conclusões, entre elas, julgá-lo como um herege. Se for uma profecia, julgo e se percebo ser uma falsa profecia, julgo-o um falso profeta." Diante do exemplo dado te pergunto: onde faltou amor?

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  5. E sobre a questão do julgamento, por favor, leia este estudo:

    http://sejamoshonestos.blogspot.com.br/2010/08/o-cristao-pode-julgar.html

    No mais, Graça e Paz!

    Ah, e da próxima vez identifique-se, por favor, visto que todos somos irmãos em Cristo (assim o creio).

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Aos repetidos comentários sobre julgamento:
Não julgamos pessoas ou a intenção de seus corações, pois isso não está ao alcande de homens. Julgamos ideias e, se fazemos isso, temos apoio nas Escrituras.

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