terça-feira, 21 de setembro de 2010

A Outra Face



Por John MacArthur


Vamos ser brutalmente honestos: muitos dos ensinamentos de Jesus estão completamente dessincronizados das convenções que dominam nossa cultura.
Estou falando, é claro, sobre o Jesus que encontramos na Escritura, não o personagem de livro de colorir, sempre-gentil, nunca-severo, supertolerante, que existe somente na imaginação popular. O Jesus verdadeiro não era um clérigo domesticado, com colarinho engomado e modos gentis; ele era um Profeta corajoso e incorruptível, que desafiava regularmente os padrões do politicamente correto.
Considere o relato do ministério público de Jesus apresentado no Novo Testamento. A primeira palavra de seu primeiro sermão foi “Arrependam-se!” – um tema que não era mais bem-vindo e menos incômodo que é hoje. O primeiro ato de seu ministério público deu início a uma pequena desordem. Ele fez um chicote de cordas e perseguiu os cambistas e mercadores de animais pelos pátios do Templo. Isto iniciou um conflito de três anos com os líderes religiosos mais distintos da sociedade. No final, eles o entregaram às autoridades romanas para crucificação, enquanto multidões de leigos aplaudiam.
Jesus foi clara, deliberada e dogmaticamente contracultural em quase todos os sentidos. Não surpreende que a aristocracia religiosa e acadêmica fosse tão hostil a ele.
Jesus receberia boas-vindas mais amigáveis dos líderes religiosos mundiais, da elite midiática, ou a nobreza política hoje? Alguém que tenha considerado seriamente o Novo Testamento sabe bem que não. Nossa cultura se dedica ao pluralismo e tolerância; desdenha de toda afirmação de verdade absoluta ou exclusiva; convencida de que o amor a si mesmo é o maior amor de todos; satisfeita com o fato de que muitas pessoas são fundamentalmente boas; e desejando desesperadamente acreditar que cada um de nós é abençoado com uma chama da divindade.
Contra uma cultura assim, a mensagem de Jesus toca todas as notas dissonantes.
Observe o registro bíblico. As palavras de Jesus estão cheias de exigências difíceis e avisos severos. Ele disse: “Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome cada dia a sua cruz, e siga-me. Porque, qualquer que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas qualquer que, por amor de mim, perder a sua vida, a salvará. Porque, que aproveita ao homem granjear o mundo todo, perdendo-se ou prejudicando-se a si mesmo?” (Lucas 9.23-25). “Se alguém vier a mim, e não aborrecer a seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs, e ainda também a sua própria vida, não pode ser meu discípulo” (Lucas 14.26).
Certa vez, uma inconcebível atrocidade romana tomou a vida de muitos peregrinos galileus que foram a Jerusalém para adorar. Pilatos, um governador romano, ordenou a seus homens que matassem alguns adoradores e então misturassem o sangue deles com os sacrifícios que eles estavam oferecendo. Enquanto a cidade ainda cambaleava graças a esse ofensivo desastre, uma torre caiu em um distrito próximo a Siloé, e instantaneamente tomou mais dezoito vidas.
Questionado sobre essas tragédias consecutivas, Jesus disse: “Cuidais vós que esses galileus foram mais pecadores do que todos os galileus, por terem padecido tais coisas? Não, vos digo; antes, se não vos arrependerdes, todos de igual modo perecereis. E aqueles dezoito, sobre os quais caiu a torre de Siloé e os matou, cuidais que foram mais culpados do que todos quantos homens habitam em Jerusalém? Não, vos digo; antes, se não vos arrependerdes, todos de igual modo perecereis “ (Lucas 13.2-5).
Ignorando as regras normais de bom gosto, tato e diplomacia, Jesus, com efeito, declarou que todos os seus ouvintes eram pecadores em necessidade de redenção. Então, como agora, era virtualmente garantido que essa mensagem ofenderia muitos – talvez muitíssimos – da audiência de Jesus.
Aqueles sem senso de culpa pessoal – incluindo a grande maioria dos líderes religiosos – foram, é claro, imediatamente ofendidos. Eles estavam convencidos de que eles eram bons o bastante para merecer o favor de Deus. Quem era esse homem para chamá-los ao arrependimento? Eles deram as costas em furiosa incredulidade.
Os únicos que não se ofenderam foram aqueles que já sentiam sua culpa e estavam esmagados sob o peso de seus fardos. Sem se afetar pela indignação ou autojustificação, eles poderiam ouvir a esperança implícita nas palavras de Jesus. Para eles, a recorrente frase “se não vos arrependerdes” apontava o caminho da redenção.
Em outro lugar, Jesus fez a promessa de vida e perdão explícita: “Quem ouve a minha palavra, e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna, e não entrará em condenação, mas passou da morte para a vida” (João 5.24). “As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu conheço-as, e elas me seguem; E dou-lhes a vida eterna, e nunca hão de perecer, e ninguém as arrebatará da minha mão” (João 10.27,28).
Isto, claro, é a gloriosa mensagem do Evangelho, tão potente e tão relevante hoje quanto era então. Mas a promessa é para aqueles que estão cansados pelo pecado; aqueles que têm fome e sede de justiça (Mateus 5.6); aqueles que vêm a Cristo com corações arrependidos – não aqueles que estão convencidos de que são fundamentalmente bons.
Pessoas orgulhosas, incluindo um monte de religiosos que se chamam de cristãos, não creem na mensagem de Cristo, no fim das contas. Ele disse: “E Jesus, tendo ouvido isto, disse-lhes: Os sãos não necessitam de médico, mas, sim, os que estão doentes; eu não vim chamar os justos, mas, sim, os pecadores ao arrependimento” (Marcos 2.17).
Então, o que Jesus diria a uma sociedade pluralista, tolerante e autoindulgente como a nossa? Estou convencido de que sua abordagem hoje seria a mesma estratégia que vemos no Novo Testamento. Para pecadores complacentes, arrogantes e satisfeitos consigo mesmos (incluindo muitos nos rol de membros de igrejas) suas palavras soariam duras, chocantes e provocadoras. Mas para os “pobres em espírito” (Mateus 5.3) – aqueles que estão exaustos e gastos pela destruição do pecado; desesperados por perdão e sem qualquer esperança de expiar o próprio pecado – o chamado de Jesus a uma fé arrependida permanece como a verdadeira entrada para a vida eterna.
Essa é uma mensagem particularmente dura em culturas como a nossa, que exaltam o amor a si próprio, a autoestima ou a justiça própria; mas Jesus foi absolutamente claro, e essas palavras ainda falam conosco: “Digo-vos que este desceu justificado para sua casa, e não aquele; porque qualquer que a si mesmo se exalta será humilhado, e qualquer que a si mesmo se humilha será exaltado” (Lucas 18.14).

Traduzido por Josaías Jr. - iPródigo

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