segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Os mensageiros de Deus em um mundo em decadência


"Quando eu disser ao perverso: Certamente, morrerás, e tu não o avisares e nada disseres para o advertir do seu mau caminho, para lhe salvar a vida, esse perverso morrerá na sua iniqüidade, mas o seu sangue da tua mão o requererei. Mas, se avisares o perverso, e ele não se converter da sua maldade e do seu caminho perverso, ele morrerá na sua iniqüidade, mas tu salvaste a tua alma. Também quando o justo se desviar da sua justiça e fizer maldade, e eu puser diante dele um tropeço, ele morrerá; visto que não o avisaste, no seu pecado morrerá, e suas justiças que praticara não serão lembradas, mas o seu sangue da tua mão o requererei." 


(Ezequiel 3.18-20)


Ouvi uma frase um dia desses durante a mensagem trazida por um pastor, que me incomodou muito nessa semana.  Ele fez a seguinte pergunta à Igreja ali presente: “Que sacrifício você estaria disposto a fazer para levar alguém a Cristo e ver essa pessoa ser salva por Ele?”. Essa pergunta deve mexer com o nosso coração o tempo todo, pois, quando Deus nos salvou também nos comissionou para levarmos Seu Evangelho a outras vidas. Por isso mesmo, quero meditar com os irmãos sobre: Os mensageiros de Deus num mundo em decadência.
O profeta Ezequiel teve essa experiência. Ele fora chamado por Deus para anunciar ao povo de Israel a Palavra de Deus numa era de decadência espiritual e moral do povo. Israel estava em pleno cativeiro na Babilônia. Parte do povo estava na Babilônia como escravo e a outra parte havia ficado na Palestina numa profunda miséria material e espiritual.
Deus então chama Ezequiel para ser Seu profeta. Para isso, Ezequiel deveria passar por privações e sofrer resistência do povo de Israel que estava espiritualmente decadente. A ele é empregada a figura do atalaia, do vigia que do alto de uma torre avisava quando o perigo (geralmente um inimigo) se aproximava.
Semelhantemente, nós somos atalaias neste mundo. Anunciamos aos homens o Evangelho de Cristo, denunciamos o pecado, o perigo iminente e proclamamos a salvação.
Geralmente, quando pensamos nos profetas do Antigo Testamento temos a tendência de concebê-los como ermitões, pessoas alienadas à realidade social de sua época. Mas isso é um engano. Os profetas de Deus sempre foram homens engajados em sua sociedade, atentos aos pecados do povo, e acima de tudo comprometidos com a verdade e a justiça. Da mesma forma devemos ser também em nossos dias. Ser um cristão bíblico é ser alguém envolvido com a realidade em que se vive, sem, contudo, deixar-se envolver com a podridão e a decadência de nossa geração. Para não cair na irrelevância, o profeta de Deus deve estar atento a alguns fatores:
1 – A postura do profeta (Ez 3.4-9)
Ao comissionar Ezequiel, Deus deixou bem claro como ele deveria se postar diante das pessoas. Nos versículos 4 a 6, vemos que Ezequiel fora comissionado para pregar para o seu próprio povo. Que tarefa dura foi a de Ezequiel! Geralmente os “de fora” nos ouvem com mais facilidade, ao passo que os “de dentro” são mais rebeldes, como o próprio Senhor Deus observou: “…se, eu aos tais te enviasse, certamente, te dariam ouvidos” (v.6), referindo-Se aos de fora.
No versículo 7, Deus diz que o povo de Israel não daria ouvidos a Ezequiel, e isso porque o povo não estava ouvindo a Deus. Toda desobediência a um mensageiro de Deus é uma desobediência ao próprio Deus, pois, é Ele quem envia o mensageiro.
Nos versículos 8 e 9, Deus mostra a Ezequiel como deveria ser a postura dele diante do povo: “Eis que fiz duro o teu rosto contra o rosto deles e dura a tua fronte, contra a fronte deles”. Na versão Almeida Século XXI esse verso foi traduzido assim: “E eu te faço tão rigoroso e inflexível quanto eles”. Diante do pecado do povo, Ezequiel deveria se postar inflexível e rigoroso. Creio que um dos problemas mais sérios que a Igreja de Cristo atravessa nos nossos dias é o da flexibilidade, da falta de rigor para com o pecado.
Em nome do “politicamente correto”, em nome da “tolerância”, estamos deixando de lado o zelo contra o pecado, a justiça contra a injustiça em todos os cantos da sociedade. Estamos nos comportando igual ao mundo, estamos cada vez mais parecidos com os ímpios. Não falo aqui apenas do que é exterior como roupas, usos e costumes. Falo aqui de princípios, de motivações, coisas internas que se exteriorizam em comportamento duvidoso e que desonra a Cristo. Falo de filhos que se levantam contra os seus pais alegando que estes estão invadindo sua privacidade. Falo de cônjuges que encontram no divórcio a solução para seus problemas. Falo de crentes que para não serem execrados e ridicularizados pelos demais, têm vergonha de se declararem como tal. Falo de crentes que até confessam sua fé, mas, que é só da boca para fora e não mostram nenhuma evidência dessa fé que dizem ter. Falo de crentes que não se incomodam com a injustiça social, com a dor dos que sofrem, com a miséria dos desfavorecidos.
Amados, como mensageiros de Deus devemos atentar para a nossa postura, pois, um mensageiro leva consigo o nome daquele que o comissionou. O mensageiro também deve estar atento a outro fator, que veremos a seguir.
2 – A mensagem do profeta (Ez 3.10-13)
Ezequiel fora comissionado para levar a Palavra de Deus a Israel. Esta é a mensagem do profeta: a Palavra de Deus. Justamente, por isso, que ao rejeitar Ezequiel, Israel estava recusando o próprio Deus, pois, Ezequiel falava em nome de Deus e a Palavra de Deus, mas, observe alguns pontos muito importantes: no versículo 10, Deus diz: “Filho do homem, mete no coração todas as minhas palavras que te hei de falar e ouve-as com os teus ouvidos”. Ezequiel deveria ouvir atentamente a Palavra que Deus lhe anunciaria e deveria também guardá-la em seu coração para que quando estivesse diante do povo, não falasse o que o seu coração quisesse, e sim o que Deus queira que fosse anunciado.
Em segundo lugar, no versículo 11, vemos que Ezequiel deveria manter-se firme nesse propósito, independentemente da resposta do povo. Não era a resposta do povo que determinaria a mensagem de Ezequiel, e sim a sua fidelidade a Deus. Ezequiel não deveria se preocupar com os resultados, mas com sua fidelidade a Deus.
Mais uma vez estamos diante de uma característica lamentável da Igreja em nossos dias. Em nome dos resultados numéricos, das cifras, muitos têm abandonado a sã doutrina para ensinarem outras coisas em vez de anunciarem a Palavra de Deus. A ordem é crescer, ainda que tal crescimento seja um mero inchaço.
Irmãos, Deus não cobrará de nós quantas pessoas convertemos com a nossa pregação, mesmo porque a conversão não é tarefa nossa. Ele cobrará de nós a fidelidade que deveríamos ter e não tivemos. Assim sendo, devemos nos preocupar com a fidelidade a Deus e à Sua Palavra.
3) A responsabilidade do profeta (Ez 3.16-21)
Este é outro fator que deve estar bem nítido no coração do mensageiro de Deus, e pelo qual deve-se ter muito zelo. No ponto anterior falei sobre nos preocuparmos com a fidelidade à Palavra de Deus porque Ele não cobrará de nós as conversões, e sim a fidelidade à Sua Palavra. Além da fidelidade à Sua Palavra, Deus também cobrará de nós a responsabilidade para com as pessoas que Ele colocou em nossa vida para lhes anunciarmos o Evangelho. Usando a figura do atalaia, Deus mostra a Ezequiel a sua responsabilidade e a responsabilidade do povo para com a Sua Palavra.
Ezequiel deveria anunciar ao povo de Israel a Palavra de Deus. Como um atalaia que ficava no alto de uma torre de vigia era o responsável por avisar a cidade com relação aos perigos, o profeta é o responsável por avisar ao povo do seu pecado e da salvação que Deus oferece. Se o atalaia não cumprisse sua responsabilidade, recairia sobre ele a culpa pelo sangue daqueles que foram mortos. Assim, também o profeta é responsabilizado quando deixa de anunciar a Palavra de Deus ao povo.
É certo que Deus não permitirá que alguém por quem Seu Filho derramou Seu precioso sangue vá parar no inferno porque outro que foi colocado por Deus para lhe anunciar a salvação não o fez. Deus com certeza levantará outra pessoa em seu lugar para falar a um escolhido Dele. Mas, preste bastante atenção: se você não cumprir sua responsabilidade de anunciar a alguém o Evangelho, Deus levantará outro em seu lugar, mas Ele acertará contas com você por sua irresponsabilidade.
Quantas pessoas passam por nós e contam suas lutas, dores e temores? São oportunidades singulares que Deus nos dá para lhes anunciarmos a Palavra de Deus. Quantas pessoas convivem conosco no trabalho, na escola, na vizinhança,? Pessoas que Deus colocou em nosso caminho para que sejamos os portadores dessa mensagem maravilhosa do Evangelho. Mas deixamos essas oportunidades passarem por nós sem que façamos o que deveríamos fazer. Não levamos a sério nossa responsabilidade para com Deus na vida dessas pessoas. Nós não levamos a sério, mas Deus leva (v.18).
O que as pessoas farão com a mensagem que lhes anunciaremos é problema delas e elas haverão de responder a Deus (v.19). Não convertemos os corações – isso é obra do Espírito Santo – mas anunciamos a mensagem que pode levá-los à conversão a Cristo. Essa é a nossa responsabilidade. Ela é intransferível, embora Deus possa usar outra pessoa para fazer o que devíamos e não fizemos.
4) O sofrimento do profeta (Ez 3.14,15; 22-27)
Voltemos à pergunta inicial dessa mensagem: Que sacrifício você estaria disposto a fazer para levar alguém a Cristo e ver essa pessoa ser salva por Ele? Veja bem, quando faço essa pergunta não quero em hipótese alguma propor que o sacrifício de Jesus precise de um “reforço” para salvar alguém, e muito menos, que esse reforço seja um sacrifício meu. O sacrifício de Cristo é eternamente suficiente. O que quero medir com isso é o grau do nosso compromisso com Deus.
Ezequiel não ficou radiante de alegria com seu chamado. Aliás, ele ficou indignado (v.14), porque sabia da dificuldade que teria de enfrentar. Ele sofria em ver a situação do povo (v.15). Ele seria amarrado e preso pelo povo e não conseguiria fugir (v.25). Deus faria com que Ezequiel ficasse mudo sem sequer poder repreender o povo (v.26). E quando Deus quisesse, Ezequiel teria seus lábios abertos para falar o que Deus quisesse (v.27).
Se você estudar sobre os profetas de Deus verá que todos eles foram homens de sofrimento. Cada um teve suas experiências duras e dolorosas com Deus. Numa época de um evangelho triunfalista falar de sofrimento é dar um tiro no próprio pé!
Amado, a Obra do Senhor traz consigo sofrimentos. Não se iluda. O sofrimento acompanha o chamado. Ser um porta-voz de Deus neste mundo trará a você dificuldades com as pessoas, você será desprezado, ridicularizado, ignorado e agredido justamente pelos seus como aconteceu com Ezequiel.
Mas nunca se esqueça do que diz a Palavra de Deus no Sl.126.6: “Quem sai andando e chorando, enquanto semeia, voltará com júbilo, trazendo os seus feixes”.
Conclusão
Talvez você esteja pensando que essa mensagem serve somente para aqueles que receberam o chamado para o pastorado, ou para serem missionários. Contudo, devo lembrá-lo que cada crente tem essas responsabilidades. Cada um deve prestar atenção à sua postura diante das pessoas, à mensagem que deve ser fiel à Palavra de Deus, à responsabilidade para com a Obra de Deus e sabedor dos sofrimentos que decorrerão desse chamado. Tudo isso deve ser visto por nós como a maior de todas as honras que recebemos nesta vida.
Por Rev. Olivar Alves Pereira, Pastor da Igreja Presbiteriana do Jardim Sul, em São José dos Campos, SP.

Um comentário:

  1. Essa pergunta nos faz refletir sobre nós mesmos e o fim dos tempos está próximo.

    Apalavra de Deus nos diz que cada um de nós dara conta de si mesmo a Deus (Romanos 14:12).

    Por isso devemos obedecer ao chamado de Deus em nossas vidas com fidelidade...

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